segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Mauro, ponta-esquerda transformado em espião


 Quando recém promovido ao elenco de profissionais da Ponte Preta em 1982, o ponteiro-esquerdo Mauro integrava uma leva de boleiros sonolentos em campo, que torcedores em geral pegavam no pé pra ‘acordá-los’.

 Dino Sani, treinador que lhe deu as primeiras chances, soube mexer com os brios ao flagrá-lo constantemente apoiando o ombro na parede de uma das portarias do Estádio Moisés Lucarelli. “Esse é o reflexo dele no campo”, disse Dino, na expectativa de ‘acordá-lo’, visto que ninguém discordava que o então atleta pegava bem na bola, nos cruzamentos.

 E quando Mauro aliou velocidade à técnica na condução da bola, teve o nome cogitado à Seleção Brasileira à Copa do Mundo de 1986, mas o convocado foi o ponteiro-esquerdo Edivaldo, do São Paulo.

 O Palmeiras veio buscá-lo em Campinas na temporada seguinte, sem que reeditasse o estilo característico. Assim acabou emprestado ao Pinheiros (atual Paraná Clube), até que o Corinthians abriu-lhe as portas no começo de 1989, envolvido em troca com o também ponteiro Paulinho Carioca.

 Após início hesitante, Mauro mudou de postura com a chegada do treinador Nelsinho Baptista no Corinthians, em 1990. Aí exerceu função de quarto-homem no meio de campo, com ajuda na marcação. Assim, dava mais liberdade para o meia Neto atacar, e a equipe conquistou o título do Campeonato Brasileiro.

 Na temporada seguinte, algumas lesões prejudicaram a sequência natural da carreira, abrindo-se espaço para que novato Paulo Sérgio ganhasse a posição.

 Já sem chances no Corinthians, Mauro perambulou por equipes de menor expressão - como o Mogi Mirim -, na certeza de que quando optasse pelo encerramento da carreira de atleta continuaria no futebol pela demonstração de aceitável leitura de jogo.

 Aí, no final dos anos 90, o treinador Nelsinho Baptista o convidou para que exercesse a função de auxiliar técnico, certo que ele agregaria às funções de espião de outras equipes, com detalhamento de esquemas táticos. Foi quando Mauro também avaliava jogadores indicados para contratações.

 Em 2008 ele voltou ao Corinthians como observador técnico. E de suas indicações o clube trouxe os meio-campistas Ralf, Jucilei e Paulinho.  

 Natural de Ipauçu, interior de São Paulo, 55 anos de idade completados, Mauro foi igualmente homem de confiança do treinador Tite, na passagem pelo Corinthians.

domingo, 21 de janeiro de 2018

Bernardo, da enxada para respeitado empresário

No dia 20 de abril o ex-volante Bernardo, um dos ‘Menudos do Morumbi’ de 1986, vai completar 53 anos de idade, e de certo vai refletir como o destino o transformou da água para o vinho. De enxada nas mãos, em fazenda nos arredores da cidade de Franca (SP), na infância, para próspero empresário de futebol, com trânsito livre no exterior.

 Nos campos de zona rural, Bernardo já mostrava bom domínio de bola como ponta-de-lança, despertando interesse dos integrantes das categorias de base da Francana, que o levaram para o juvenil. Sabe-se lá por quais motivos trocou a Francana pelo Marília. Aí, rapidamente foi promovido ao profissional, porém com desconfiança de alguns pelo estilo lento.

 Ainda no Marília, Bernardo foi recuado à função de volante, e não recaiu sobre ele qualquer culpa pelo rebaixamento da equipe à segunda divisão paulista, em 1985. Daquele elenco, comandado pelo saudoso treinador Zé Duarte, apenas o ponteiro-direito Zé Guimarães era tido como diferenciado.

 Cilinho, treinador que havia sido contratado pelo São Paulo, teve percepção que Bernardo poderia evoluir pela característica de condutor de bola e estatura de 1,87m de altura, adequada à bola aérea. Assim ele se juntou aos jogadores Muller, Pita, Silas, Careca e Sidnei Trancinha, que conquistaram o Campeonato Brasileiro, porém com Pepe no comando técnico.

 Pode-se dizer que as passagens de Bernardo pelo alemão Bayern de Monique e japonês Cerezo Osako serviram para ampliar relacionamento com europeus e asiáticos. Considerando-se o bom trânsito com clubes brasileiros, ao jogar no Vasco, Santos e Corinthians, decidiu continuar no futebol como empresário, após pendurar as chuteiras em 1997, no Atlético Paranaense.

 A influência dele no São Paulo facilitou o ingresso do filho Bernardo Júnior na categoria infantil. E não houve abatimento familiar com a dispensa, pois a recolocação foi imediata no Audax, e posteriormente no Rasen Leipzig, da Alemanha.

 Bernardo teve rota de colisão com o São Paulo em 2013, quando acumulava a função de vice-presidente do Grêmio Prudente. Na época, acusou o tricolor paulistano de aliciar o jogador Paulo Henrique, de 16 anos, vinculado àquela agremiação, para que assinasse o primeiro contrato profissional. O ofício foi encaminhado à ABEX (Associação Brasileira de Executivos de Futebol).

Levir Culpi, técnico falante e vitorioso

 Levir Culpi é o típico treinador que não tem papas na língua, e fala aquilo que pensa sem medir consequências. Desconsiderando a boa fase do então atacante Romário, as vésperas da Copa do Mundo de 2002, posicionou-se contrário a convocação do jogador ao selecionado brasileiro, com alegação que estava “velho”.

 Com a repercussão negativa, procurou se expressar melhor: “Ninguém discorda que o Romário é um ótimo jogador. Refiro-me a questão de produtividade, insuficiente para disputar uma Copa”, disse à época.

 Levir havia sido cotado para assumir a Seleção Brasileira em 2000, quando o técnico Luiz Felipe Scolari rejeitou o primeiro convite da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), mas devido à insistência aceitou posteriormente.

 Paranaense nascido em fevereiro de 1953, Levir foi zagueiro de Coritiba, Colorado (PR), Santa Cruz (PE) e Botafogo (RJ) nos anos 70 e 80. Também integrou a Seleção Brasileira sub18 em 1972 na França, no Torneio de Cannes, quando se rotulava ‘zagueiro de técnica’.

 Treinador a partir de 1987 no Juventude (RS), teve trajetória ascendente e fama de ‘pé quente’. Conquistou acessos à elite do Campeonato Brasileiro com Inter de Limeira (SP) em 1988, Botafogo (RJ) em 2003 e Atlético (MG) em 2006. No Japão, levou o Cerezo Osaka à principal divisão, e foi reconhecido quando comandou o Ettifaq da Arábia Saudita.

 Evidente que teve percalços na carreira. Caiu para a segunda divisão nacional com o Palmeiras em 2002. Em 18 jogos, seu retrospecto foi de cinco vitórias, seis empates e sete derrotas. Nem por isso se abalou. Já havia mostrado competência no futebol paulista com o título estadual em 2000 pelo São Paulo, quando recebia salário de R$ 160 mil, metade do valor oferecido pela CBF para que Felipão assumisse o comando da Seleção Brasileira.

 Há histórico na carreira de títulos regionais em Pernambuco, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais. Até hoje é lembrado pela torcida cruzeirense pelos títulos estaduais de 1996 e 98, Copa do Brasil de 96 e Recopa Sul-Americana de 98. E um dos segredos do sucesso foi a exigência para que seus comandados se aplicassem no fundamento ‘passe’, que julga ser fundamental no futebol.


 Organizado, Levir criou o próprio site em que o internauta pode acessar páginas redigidas em inglês e espanhol. Em casa, gosta de ouvir músicas brasileiras em volume exagerado. E quando a esposa reduz o volume, ele volta a aumentá-lo.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Eurico Miranda, histórias de irreverência

 No dia 13 de dezembro de 2012, o mais controvertido cartola do Vasco da Gama de todos os tempos, Eurico Miranda, ocupou espaço na mídia ao autografar o livro ‘Todos Contra Ele’, no Rio de Janeiro, obra com a biografia dele e escrita por Sérgio Frias.
 Com saudade dos holofotes, Eurico aproveitou a oportunidade para alfinetadas características: “Só quero que não me provoquem muito. Eu tinha decidido me aposentar e cuidar dos meus netos, mas estão me provocando muito. De repente posso mudar de idéia”, foi a insinuação de que poderia disputar a eleição presidencial seguinte do clube.
 Com ou sem provocação, havia se agarrado outra vez ao cargo, e agora não quer deixá-lo, na iminência de eventual derrota na eleição presidencial do clube. Por isso tenta suspender na Justiça a eleição dos novos conselheiros.
 No atual cenário, a chapa de oposição nomeará 120 conselheiros para a posse do Conselho Deliberativo, ficando 30 à chapa da situação. Estes 150 vão se juntar a outros 150 natos, para eleger o presidente durante o triênio 2018-2020.
 Não há estranheza no comportamento de Eurico, que desafiou a Rede Globo de Televisão durante transmissão da final da Copa João Havelange de 2000, contra o São Caetano. Na ocasião, o Vasco optou pelo logotipo da concorrente SBT nas camisas dos jogadores.
 Também consta no histórico do dirigente ter transportado à sua casa receita que cabia ao seu clube, da partida contra o Flamengo de 1997, pelo Campeonato Brasileiro, no Estádio do Maracanã. A justificativa foi que, mesmo com seguranças, teria sido rendido por assaltantes que levaram o malote com o dinheiro.
 A mídia informou o valor de R$ 62 mil, mas o dirigente revelou perda de R$ 27 mil. Detalhou que bandidos usavam colete à prova de bala e metralhadora R15. Todavia houve suspeita de situação forjada. Questionou-se à época por que ele não fez uso de carro forte para transporte seguro?
 Denunciado por crime contra a ordem tributária, Eurico foi condenado em 2007 a dez anos de reclusão e ao pagamento de multa de R$ 53 mil, pela 4ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, mas recorreu em liberdade.

 Com o reprovável hábito de enfumaçar ambientes com baforadas de seu charuto, Eurico destilou todo veneno contra o maior rival: “Não sei se tenho maior prazer numa relação sexual ou se quando ganhamos do Flamengo”.